sexta-feira, 15 de junho de 2007

Por ocasião do Pausa Dramática...

É com muita satisfação que participaremos do Projeto Pausa Dramática deste mês, dada a importância do projeto para a formação de público, e, sobretudo, para a construção de estudo e pensamento sobre teatro em nosso Estado, porém, não podemos deixar de ressaltar que realizar Nelson Rodrigues tem sido para nós uma experiência única, observada a admiração que nutrimos por ele e a imensidão de signos que sua obra sugere.
Acreditamos que ao se arriscarem à cena, a maioria dos artistas cênicos quase sempre em seus primeiros momentos, se apaixonam por Nelson, porque ele próprio e os pensamentos e atitudes de seus personagens são tão livres das amarras sociais quanto nós, artistas, e também, ele é um dos grandes! Por isso, é tão difícil desalinhar o autor e a obra, pois também esta é fruto amargo (porque provém de experiências dolorosas, como a morte do irmão Roberto e do pai) e doce (dada a magnitude que seus escritos alcançaram) da vida do flor de obsessão. A obra rodriguiana nos fascina a medida que a conhecemos e vemos as infinitas possibilidades de sua leitura. Por ser tão latente, tão universal, por falar de desejos inconfessos, escondidos pela máscara social ela nos leva ao inconsciente, agride e incomoda. Quem nunca traiu? Quem nunca desejou ou sentiu vontade de ser desejado? Nelson é santo e canalha, expurga nossos pecados, realiza-os na cena de forma expressionista e natural.
Eis outro ponto relevante na obra rodriguiana e que é base de nossa pesquisa sobre o autor, principalmente nos contos de "A vida como ela é..." e nas tragédias cariocas, como Os sete gatinhos, Bonitinha, mas ordinária, Toda Nudez Será Castigada (vale ressaltar aqui a montagem imperdível da Cia. Armazém, que estará nos dias 21, 22 e 23 de junho no TJA), entre outros, observamos uma hibridação entre naturalismo/realismo e expressionismo. Em Nelson, a naturalidade dá-se através de um diálogo enxuto, direto da palavra suada de rua, cotidiana, que favorece uma dicção natural, já o expressionismo está presente nos desejos transfigurados na fisicidade, já que para o autor ninguém ama impunemente, todos nós trazemos em nosso próprio corpo as conseqüências de nossos desejos.
Dia dezenove de junho às dezenove horas no Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar, nós juntamente ao público estaremos em busca da atmosfera de fervor que cerca os textos rodriguianos; e que ele, o anjo pornográfico, nos abençoe nesse ato de entrega que é o teatro.
GRUPO 3x4 DE TEATRO

Um comentário:

Rafael Martins disse...

Oi, Gyl!

Será um prazer (e um orgulho) recebê-los em nosso Pausa Dramática. Grande abraço, querido. Até lá!

Rafael Martins